Estando na ponta do Serralho, e olhando em frente, na outra margem do Chifre de Ouro, a torre de Gálata chama muita atenção e marca uma das povoações mais antigas da margem norte, juntamente com Beyoglu, que nos tempos mais antigos foi conhecida como Pera. Esta palavra sig- nifica, em grego, “mais longe”, “mais além”, indicando, na época, a considerada longínqua costa setentrional do estreito. Lugar onde cres- ciam inúmeras vinhas de muito boa qualidade.
Na época do Império Bizantino, Pera dominava o burgo implantado ao norte de Gálata, que se transformou em bairro cada vez mais elegan- te. Semeados de história, os dois bairros, Gálata e Pera-Beyoglu, mere- cem uma observação detalhada, e suas ladeiras cheias de novidades se bem que às vezes íngremes demais têm sempre uma solução: quando cansar, desça, desça sempre até encontrar o mar- o Bósforo é um lugar de fácil retorno… “Ou então tome o túnel”, me indicou al- guém na minha primeira visita ao lugar. Porém falou em turco, língua de belo som que às vezes conta com ampla gesticulação. O que seria o túnel? Esta fora a única palavra que eu entendera. Perguntei a outra pessoa, arrastando uma língua turca de vocabulário turístico: O que é “túnel?” Desta vez a resposta veio com um sorriso muito doce, mas novamente em turco. Preferi então tentar descobrir sozinha que mara- vilha era aquela que podia me suspender pelas ladeiras.
Saindo das vizinhanças do Pera Palas, em pleno Beyoglu, eu tinha tomado o caminho que desce para a torre de Gálata, cujo teto cônico, a 62 metros de altura, serve como excelente ponto de referência para conhecer o bairro que leva seu nome. Edificada no século XIV, como fortificação, esta gigantesca construção domina a parte setentrional do Chifre de Ouro. Seu entorno, a pequena cidade fortificada da primeira época greco-bizantina, e, portanto anterior a Istambul, teve grande de- senvolvimento quando os genoveses passaram a controlá-la no século XIII, tornando-a uma cidade dentro de uma cidade, e uma cidade oci- dental dentro da cidade oriental.
No século XI, os basileus já tinham autorizado Veneza e outras cida- des-estado italianas, entre as quais a república de Gênova, a estabelece- rem entrepostos comerciais em Constantinopla. Quando os venezianos e os cavaleiros cruzados tomaram a capital bizantina em 1204, os genoveses foram expulsos por estes do Chifre de Ouro, e obrigados a emigrar para a cidade da outra margem, onde também assumiram o porto. Em 1261, os Paleólogo recuperaram Constantinopla, mas tive- ram que pedir ajuda à república de Gênova para continuar a fazer face não só à muito poderosa República Sereníssima de Veneza, mas tam- bém às forças de ocupação cruzadas, os denominados latinos, que ain- da permaneciam nas redondezas.